Como São Paulo mora em mim?

Published: dom 03 agosto 2025

In blog.

Não sou capaz de dizer que odeio esse lugar, mas me sinto igualmente incapaz de dizer que o amo.

Sempre foi assim.

De uns tempos para cá, não sei exatamente o que mudou, mas não basta mais essa indiferença. Acho que tenho entendido que a vida é o dia a dia; a vida não é a exceção. A falta de afeto com o que me é corriqueiro não se compensa com um esporádico preenchimento.

São Paulo não existe com os paulistanos, mas para os paulistanos.

Quem está aqui, está aqui para extrair algo. Não me delongo por falta de propriedade, mas entendo que na sua história passada e contemporânea, São Paulo é, para seus habitantes, apenas um recurso. Quem está na metrópole não está por suas belezas, por sua cultura, por seu povo. Está pelas "oportunidades". São Paulo não é "a cidade maravilhosa". São Paulo, no máximo, foi a "terra da garoa". E até isso se perdeu. Careço de referências sobre esse lugar, mesmo que referências sobre seu sofrimento.

São Paulo sempre existe em notícias, e nunca na arte. Parece que o desprezo é tamanho que nem falar mal falamos. E se a dor é sentida, é digerida na perspectiva individualista que condena "São Paulo" como uma entidade que existe além de nós, como se o paulistano não fizesse São Paulo. E o abismo só se aprofunda.

Mas, se fico aqui, quero fazer de São Paulo meu lar.

Quero saber das histórias desse lugar, e me reconhecer nelas. Quero saber para onde ir em busca de aconchego. Quero reunir meus amigos no "nosso lugar", onde convivemos. Quero que, no meu bairro, alguém saiba meu nome. Quero entrar num estabelecimento e pedir "o de sempre". Quero festejar alguma coisa daqui, e chamar isso de cultura. Quero sentir que não sou o mesmo sem São Paulo, e que (alguma coisa de) São Paulo não é a mesma sem mim.

Acho que, basicamente, quero amar São Paulo sem que isso seja errado.

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